23.10.10

Uma oração pelo meu coração


Não lhes posso tirar a razão...
Quando paro e penso sobre o que tinha no peito. O que de verdade carregava comigo... tristeza e saudade.
Mas tenho vivido tempos bons. Eu não confiava muito nas pessoas. Sempre achava que encontrariam um jeito maluco de me magoar ou de simplesmente colocarem seus próprios interesses acima dos meus ( o que não é lá de todo incompreensível). Mas... eu realmente amo esses que enxergam em mim além da carne, cor e sonhos. Os que sinceramente acreditam em mim, quando eu mesmo já não tenho forças. E pasmén... eu tantas vezes me encontro perdido.
Meu norte é o coração. E quando dói eu o escondo no mais profundo vale. Eu escondo meu coração do mundo. E faço cara de poucos amigos (ou amigo nenhum). E mostro os dentes em momentos de coléra. E escondo esse coração no mais profundo lago das lágrimas que eu já derramei ( e tantas outras ainda virão).
Eu estou perdido sabia ?
Eu sempre achei que não conseguia muito me encontrar na vida. E aqui e ali fui só fazendo o mais simples e verdadeiro. Vivendo.
Algumas vezes, sem porto. Outras caminhando sem rumo e por vezes, rodopiando no mesmo lugar em sentido horário. Mas eu realmente nunca parei. Sempre procurei... acabei procurando meu coração que eu escondi do mundo e de mim mesmo.
Já pensei tê-lo encontrado em dias de chuva, quando a cidade corria apressada e eu caminhava ao sabor do dia que passava. Rumo a uma forte gripe pelo fim de semana.
Já pensei tê-lo encontrado no meu trabalho, fosse qual fosse designação que este assumia e em razão de qual fosse o novo pronome de tratamento a ser utilizado : "Vossa excelência data máxima vênia" ( o meu favorito).
E já pensei ter encontrado em amores pelo caminho. Mas é dificil amar sem um coração (acreditem !).
E procurei vocês.
Quando desisti do meu coração procurei vocês.
Quando o desespero, como de criança que segura os dedos dos pais em noite de chuva se avizinhava, eu procurava vocês, sem o meu coração.
E de tanto procurar eu enfraqueci, esqueci por qual nome chamar minha liberdade e o calor do carinho. E ambos coração e amor se viram perdidos em mim.
Achei que não havia sobrado bondade. Mas os amigos me lembravam de meu erro. Fui encontrado.
Achei que não havia sobrado ternura ou fraternidade. Mas os amigos me lembravam de meu erro.
Achei que não havia sobrado amigos. Mas o barulho ensurdecedor que faz ao se sentir o afeto dos que se importavam comigo, mesmo quando eu os afastava, me fez lembrar. E aos poucos lembrei que tinha um coração e de como era bom senti-lo e usa-lo. Lembrei de meus sonhos de menino, de um mundo transformado. Lembrei de paz. Ora paz de menino de ensaiar o fazer a barba no espelho igual o pai, ora paz de homem do abraço no final da tarde. O abraço esperado...
E quando me dei conta, havia o abraço esperado...
Não me tomem por tolo. Pois só um tolo abandona o medo. Mas no meu caso, ele estava presente, e como voz menor. Sequer se ouvia um assovio no vento, do medo de outrora.
Este é o meu tempo neste mundo. Meu tempo.
Os passos firmes no chão. Os cabelos que uma hora ou outra tornam-se brancos, muito mais de preocupações do que mesmo em razão da mordida voraz do tempo, contam minha história, quando emudeço.
A despeito das minhas insistentes afirmações. Para espantar. Para ludibriar e seguir no velho costume de esconder meu coração. Eu sou um homem bom. Eu não faço mais esforço para crer nessa condição. Eu sou.
Não me peçam para ser diferente deste homem bom que lhes estende a mão. É como pedir para que os pássaros parem de cantar ou esperar cair folha a folha tomando nota, das atividades da árvore.
Confie em mim.
Confie em mim quando eu vacilar. Quando eu fizer menção de esconder meu coração como agora...
Esse silêncio que fala em mim. Essa engrenagem que desanda a doer. Essa falta de substância. Como eu gostaria de poder explicar melhor. Mas eu os veria chorar. E isso me faria em definitivo desconfiar das intenções dessa força maior que rege o mundo. Sim, pasmén eu acredito. E percebo na falha humana, na desordem, na mesquinharia, na rudeza dos atos e na impiedosa fala dos que não conseguem deixar os vícios sociais ao largo das questões que verdadeiramente importam a ausência desta força ( receba ela a designação que for).
Tenho sido considerado fraco ou lacônico em razão da escolha que fiz de meu tempo. E como eu gostaria que minha defesa fosse este objeto pulsante que seguro entre as mãos espalmadas.Que salta feroz, como se anunciasse na batida seguinte a despedida.
Amigos... os que me amam. Você se me amar. Se o tempo é o senhor das decisões e me apregoam ser velho antes do que meu coração mostra. Então me respondam sincera e honestamente o que fizeram hoje pelo seu próprio tempo ?
Perderam um dia ?
Ganharam outro ?
Perceberam a passagem do tempo, além do nascer e pór-do-Sol ?
Se hoje a última batida estivesse próxima, talvez ao final desta nova linha, eu lhes digo, partiria com saudade, mas sem um remorso. Voltaria para visitá-los no vento.
Eu estive com vocês, como a muito tempo tenho estado, com alegria aproveitando cada segundo. Cada momento de alegria espontânea, com pessoas que considero meus irmãos. Senão de sangue, como denuncia a cor da pêle, ao menos de espirito como igualmente anuncia o sorriso contente da companhia e a aversão aos preconceitos de toda ordem.
Eu estive com você, para cuja as horas do dia que se segue, ainda se fazem infimas, perto do tanto que eu a amo. E na partida para o trabalho, sou metade, até que ouça novamente sua voz. A despeito da minha em certo momento aborrecer com os mesmo assuntos. É difícil, para quem escondeu o coração por tanto tempo, aprender a falar, mas quando aprende, o "eu te amo", é dito não como virgula, mas como voz unissona do que realmente se carrega nos olhos, boca e mente.
Eu estive comigo, em meu trabalho, com as dificuldades e alegrias. E me entristeci por ainda não ter conseguido mostrar o quanto eu realmente me importo.
Eu fui hoje o que eu deveria ser.
Se hoje como apregoam o tempo pesa. Ouçam a oração que faço pelo meu coração, pois perdôo a ignorância de vocês. Perdôo a maledicência e o sorriso que julga. Perdôo o abraço frio. De mim vocês só terão o melhor, pois a despeito do que dizem eu sou um homem bom, e é tudo o que eu devo ser para igualmente realizar um bom caminho protegendo o que considero um presente da vida.



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