8.11.09

A turba


Alguém por gentileza me encontre uma poça de água fresquinha ainda que suja, para eu me sentar e esquecer tudo o que aprendo, descartar toda a luta neste país pela liberdade.
Como se já não fosse altamente frustrante o episódio da instituição de ensino superior que deixou que a massa decidi-se o destino de uma aluna regularmente inscrita como parte integrante do corpo acadêmico daquela faculdade, impedindo o livre trânsito da pobre moça pelos corredores da instituição. Agora parece que é a mesma massa, ainda aos gritos de "estupra ! estupra !" que pede e é satisfeita na expulsão da jovem.
Moral torpe. Desvirtuada. Fanática. Na contramão de tudo o que deve ser o ensino superior. A culpabilidade , se é que ela sequer existe, pois se existe é tão fruto do descaso educacional, quanto da lógica de consumo exarcebado, é posta totalmente no individuo. Regras não claras, a mercê da autocracia de momento de uns debilóides, que sufragaram não a liberdade de expressão, em um ambiente condizente com o respeito mas a ojeriza preconceituosa de quem busca única e exclusivamente no fim venal a formação. Respeito é em primeira e última análise antes de tudo conviver com o diferente. Ainda que diametralmente diferente.
O exagero de masculinizar toda ação feminina para que seja respeitada é de um tom aviltante e horrível. Nem como piada se explica. Uma coisa é rir da piada, verificando a intenção do "animus jocandi"outra coisa diferente é dar crédito a um exagero da realidade e ver nisto um espelho dessa mesma realidade.
O bem estar efetivo de meramente frequentar a sala de aula de um curso superior sem pensar nas implicações de cada ato, de cada momento naquela comunidade, é agir como um automato. É esperar que a mera transmissão de conhecimento, e o saque final em uma ou muitas provas lhe conceda um espirito maior e melhor(aos moldes da educação bancária comentada por Paulo Freire) .
Tola mentira...
Torpe venda da realidade...
A educação não esta em luto. Mas saiu para dançar, num vestido mais curto ainda do que o da moça.
Cuidado !
Palas Atenas ! Cuidado ao desfilar com os joelhos a mostra ! Não te esqueça da lança e do escudo.
A turba moralizante gritará, perseguirá e te fará a justiça, que a eles mesmo é negada...
Triste espetaculo. Triste papel destes educadores, que se rendem passivos a esta decisão. Triste posicionamento dos colegas desta moça que se ausentam de opinião ou enxergam no episódio um acontecimento infeliz mas pontual e passível de esquecimento.
Ainda que sentado em minha poça fria. De água tão turva quanto a visão desses novos jacobinos sem bandeira, nem partido, nem pátria. Ainda estou vivo. Tão vivo quantos os moradores da casa dos mortos.
Onde esta a loucura ?
Onde esta a sanidade ?
O que virá depois ? Denuncismo ? Marcha com deus e pela família ? Censura ?
Lembrei-me do "poema em linha reta".Talvez este seja o soco que não devemos desviar, e efetivamente bradar que não somos principes na terra, todos os dias até que se reestabeleça a liberdade de ir, vir e permanecer desta jovem. Devemos receber pronto, em cheio, obtuso em plena face este tapa. Talvez lembremos da dor. Talvez a lágrima escorrendo, sem ser um efeito televisivo, lembre a todos da emoção. Emoção sem espetaculo. Humana emoção que não gere a expectativa dos créditos finais subindo.






O documentário a que me referi, "A casa dos mortos", é sobre a luta contra o regime manicomial. judicial. Vale a pena assisti-lo. Coloquei aqui a sua versão integral para uma reflexão sobre o espirito humano. Gostaria de ter feito referência a ele num outro contexto, tanto quanto espero discutir meu país para longe de situações vexatórias como esta.

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